Exposição homenageia o jornalista e escritor mineiro Murilo Rubião
A 4a Edição do Tiradentes em Cena celebra o centenário de nascimento do jornalista e escritor mineiro Murilo Rubião, falecido em 1991. A homenagem acontece no Sobrado Quatro Cantos, com uma exposição que fica em cartaz durante todo o festival. A abertura é no dia 6 de maio, às 17 horas.
Nascido em Carmo de Minas em 1916, Murilo foi considerado o autor mais significativo da literatura fantástica no Brasil. Sua linha narrativa flerta com o inesperado e ele usa do "imaginário" para entrar na instância fantasiosa e fugir da prosa realista que se aplicava a vários de seus contemporâneos. Suas obras foram traduzidas para diversos idiomas e adaptadas para o cinema e o teatro, como é o caso da peça "A Casa do Girassol Vermelho" (Companhia Sonho e Drama), com adaptação e direção de Cida Falabella, baseada em "A Lua", "Bárbara" e "Os Três Nomes de Godofredo". Seus contos também inspiraram outras vertentes da arte, como a TV e as artes plásticas.
Abaixo, você confere o "Auto-retrato" do autor:
Auto-retrato
No livro de registro de nascimento da matriz de Silvestre Ferraz, hoje Carmo de Minas, encontro, ao lado meu, os nomes de meus pais: Eugênio Alvares Rubião e Maria Antonieta Ferreira Rubião. 1916. Meu pai, homem de boa cultura humanística, era filólogo e pertenceu à Academia Mineira de Letras. Escrevia com rara elegância, apesar de gramático. Dele herdei a timidez e um certo ar cerimonioso, que me tem privado da simpatia de numerosas pessoas. Algumas delas mulheres, o que é lamentável.
Em Belo Horizonte residi vinte e cinco anos. Alguns alegres, outros tristes. Lá pretendo morrer. No cemitério do Bonfim, se não for incômodo para os que me sobreviverem. Cursei grupo escolar, ginásio, Faculdade de Direito, e posso afirmar, sem sombra de orgulho, que jamais fui primeiro aluno em qualquer disciplina. Como escritor, alcancei algum êxito na burocracia das letras. Três vezes presidente da Associação Brasileira de Escritores (Secção de Minas Gerais) e vice-presidente do I Congresso Brasileiro de Escritores.
Sete anos levei para escrever e publicar o meu primeiro livro "O Ex-Mágico". Nem por isso ele saiu melhor.
Comecei a ganhar a vida cedo. Trabalhei em uma baleira, vendi livros científicos, fui professor, jornalista, diretor de jornal e de uma estação de rádio. Hoje sou funcionário público.
Celibatário e sem crença religiosa. Duas graves lacunas do meu caráter. Alimento, contudo, sólida esperança de me converter ao catolicismo antes que a morte chegue.
Muito poderia contar das minhas preferências, da minha solidão, do meu sincero apreço pela espécie humana, da minha persistência em usar pouco cabelo e excessivos bigodes. Mas, o meu maior tédio é ainda falar sobre a minha própria pessoa.