Abertura do Tiradentes em Cena é marcada por resistência, luta, poesia, música, tambores e chuva
Nada mais complexo e laborioso do que trabalhar com teatro no país. Principalmente, nos tempos sombrios em que vivemos. Porém, os agentes de cultura costumam ser os que mais resistem e persistem. Simplesmente, porque são movidos pela paixão.
Tudo pronto para a abertura do 5o Tiradentes em Cena. Empecilhos que atravancavam o caminho foram superados, obstáculos vencidos, programação fechada, produção a postos. Porém, algumas horas antes da abertura, um último contratempo: o próprio tempo. O céu fechou em Tiradentes, encobrindo a Serra de São José e todo o Centro Histórico. E assim ficou, durante todo o dia. A chuva, implacável, caia sem piedade. Só havia uma coisa a fazer: mudar a abertura do Festival de lugar. Às pressas, nossa equipe transferiu os equipamentos e toda sorte de parafernália para o Spasso Escola de Circo, no Parque das Abelhas. O que parecia um pesadelo acabou se tornando uma noite mágica, representando, literalmente, toda a resistência, luta e poesia do teatro brasileiro.
Cerca de 200 pessoas enfrentaram as intempéries e chegaram à tenda do circo para prestigiar a abertura do Tiradentes em Cena 2017. Aline Garcia, idealizadora e organizadora do Festival, bem mais aliviada depois do sufoco, desabafou em seu discurso: “Estamos vivendo dias literalmente e metaforicamente nublados. Não dá para fechar os olhos para o momento caótico da nossa política e suas consequências sociais e econômicas para toda a população. Assim como não podemos perder a esperança e continuar lutando cada um da forma como pode. Sou nascida e criada nesta cidade e a partir da minha experiência, trabalhando na área cultural, encontrei a minha forma de lutar. E a maneira que encontrei de dar esse recado foi promovendo uma mostra de teatro com total liberdade de expressão e sempre explorando temas que façam o público refletir e ter contato com o diferente, o inusitado”.
O tema escolhido para a edição 2017 não poderia ser outro: Tolerância. Motivados pela beleza da diversidade humana, os organizadores sabem que o Festival é uma bela ferramenta para discutir questões essenciais para a sociedade e que, no final, o público sai daqui com o coração mais leve e a cabeça mais aberta. “Em tempos de tanta patrulha pelo politicamente correto e de tantas opiniões extremistas, optamos, nesta quinta edição, em falar não somente da diversidade, mas principalmente da tolerância. A partir de hoje, até o próximo sábado, dia 27, vamos combater o preconceito e exercitar o nosso poder de aceitação. Mais de 20 espetáculos, de lugares diferentes, serão apresentados em diversos espaços da cidade e nos ajudarão a explorar esse tema e abrir nossas cabeças”, disse Aline. Ainda na abertura, o estudante Lucas, da Escola Estadual Basílio da Gama, vencedor do concurso de poesia, que teve com o tema “tolerância”, leu seus versos, emocionando o público.
Logo após a abertura, o homenageado do Festival, Maurício Tizumba, se apresentou na conhecida tenda do circo Spasso, junto ao afiado Tambor Mineiro. A apresentação, que durou cerca de duas horas, encantou crianças e adultos que foram prestigiar a abertura da 5a edição do festival de teatro da terra do Alferes. A chuva, que não cedeu nem por um minuto, foi louvada por Tizumba, que é velho conhecido dos idealizadores da Escola de Circo Spasso, e adorou o lugar inusitado onde se apresentou.
É... Arte é assim mesmo. Muitas vezes, a beleza está no improviso. Tiradentes em Cena – cinco anos lutando contra intempéries, improvisando delicadezas e contracenando com você.